quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DISPERSÃO



Depois que os rebentos partiram para seus outros ninhos,
aqui ficamos sós, como antigamente,
vivendo um dia-a-dia diferente,
porque aos cinqüenta os atrativos mudam:
não são os mesmos da juventude.

Outras atitudes,
reconsideram-se as virtudes,
diferem os bons momentos,
e somos tomados por receios,
porque não mais podemos errar.
para se chegar ao fim,
analisamos os meios.

Sempre pensando Neles...
os pensamentos andam cheios,
sempre pensando Neles.

Estarão bem,
será verdade,
que não passam necessidades,
que a voz ao telefone é verdadeira,
que as gargalhadas distantes
refletem suas felicidades?

Um misto de alegria e de incertezas,
que nos anima,
impulsiona,
diviniza nossa paternidade,
e nos injeta felicidade.

Nossos pequenos rebentos,
que se fizeram grandes
e já estão querendo produzir flores...!

domingo, 27 de setembro de 2009

A LINHA VERDE


A Linha Verde dividiu a cidade. Os do lado de lá e os do lado de cá. Atravessá-la, de manhã, no sentido centro, é uma aventura; retornar, à tarde, uma façanha. Ficou bonita? Isso ficou! Mas tente atravessá-la. E todos perguntam: como podem realizar uma obra tão cara, sem analisar as consequências?
Dia desses, numa entrevista, o prefeito foi questionado sobre o problema. Que explicasse a falta de trincheiras e viadutos para agilizar a travessia, pediram. E sabem o que ele respondeu? “Viadutos e trincheiras servem para separar um congestionamento do outro”.
Pode uma explicação dessas na cabeça e boca do mandatário mor da cidade? Realmente estamos no mato sem cachorro.
O prefeito precisa saber que o problema que ele criou, separando o lado de cá do lado de lá, foi exclusivamente porque se colocaram sinaleiros. Será que ele não sabe que se não se interromper o fluxo de veículos o congestionamento não vai existir? Tranque um rio para ver o que acontece. Ele represa até transbordar. Foi o que fizeram querendo modificar a simplicidade que existe nas leis da natureza. Essa de dizer que viaduto e trincheira servem para unir um congestionamento ao outro é uma asneira tão grande quanto a asneira de ter implantado os sinaleiros.
Que seria do Rio de Janeiro e São Paulo sem os viadutos e as trincheiras? Como ficaria o trânsito naquelas ruas de Curitiba que escoam seus veículos servindo-se desses dois métodos de descongestionar?
Para se ter uma prova, vamos fazer umas simulações. Coloquemos sinaleiros nos viadutos existentes na Marechal Floriano, na Francisco Derosso, no viaduto que passa sobre a Linha Verde ligando o Jardim das Américas ao Jardim Botânico e no viaduto do Tarumã. Dá para se imaginar o que acontecerá? A cidade vai trancar.
Viadutos e trincheiras são imprescindíveis numa cidade como Curitiba que aumenta sua população e o número de carros cresce assustadoramente.
Um taxista, dia desses, quando estávamos parados num congestionamento da Rua João Soares Barcelos, deu-me uma explicação que não pode ser desprezada. Disse que os viadutos e as trincheiras não foram implantados e substituídos pelos sinaleiros, porque assim sobrou mais dinheiro para o cofre do caixa dois. Isso foi ele quem falou, eu apenas escrevo as palavras que proferiu.
Sem trincheiras e viadutos, temos um futuro negro para a Linha Verde!


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

FOGÃO DE LENHA


Estou a lembrar um utilitário antigo: o velho fogão de lenha. Na casa dos meus pais ele esteve presente até bem pouco tempo. Foi utilizado para muitas coisas: servia para fazer a comida, para esquentar a água de tomar banho, e, principalmente, ao redor dele, naqueles dias de frio, a família se agrupava para buscar calor.
Funcionava como se fosse uma lareira, esparramando tepidez pela casa toda.
Nos reuníamos com a chapa cheia de pinhões e amendoins que iam assando e comidos com avidez.
Ali eram sapecadas as polentas.
Ao seu redor contávamos as histórias. Enquanto não se deixava faltar lenha no compartimento do fogo, o calor não fugia.
Ali catucávamos os irmãos e as irmãs menores ou aplicávamos beliscões só para vê-los chorar.
Às vezes alguém tocava nos cantos superaquecidos provocando queimaduras e gritos de dor.
Passávamos o tempo nos aquecendo ao seu redor, porque faltavam roupas grossas para enfrentar o frio.
Meu pai, quando a temperatura diminuía, colocava nozes de pinho que faziam um fogo forte e avermelhavam a chapa soltando um cheiro diferente de um fogo vermelho e azulado.
Era ali, cortejando aquele calor, que passávamos parte dos invernos mariopolitanos. Eram sempre muito cruéis. Vinham acompanhados de ventos gelados, geada e até neve!
Hoje sinto falta desse calor, dos risos que nos proporcionou, das histórias que criou e da facilidade que tínhamos de nos reunir.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

MUDANÇA



Aqui estou em paz:
sem dívidas nos bancos,
sem compromissos com o povo,
longe...
alheio às “fofocas”,
da inveja e da cobiça,
num mundo novo.

No anonimato a viver,
um ser que foi tão marcado,
que passou angustiado,
pela maratona do poder.

Ando pelas ruas e não me “torram”.
olho as vitrinas sozinho,
que invejável transparência,
fugindo da autofagia,
Trilho uma solidão gostosa,
construindo um novo ninho.

Acostumo-me a um mundo diferente,
que anda a me trazer sossego,
sem muito dinheiro,
mas num calor bem quente...!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

PENSANDO LONGE


Não sei por que,
mas a mil quilômetros
sinto teu cheiro,
ouço tua voz,
percebo teu olhar,
aquele que me sentiu primeiro,
quando eu nem imaginei olhar.

Dirão que velho destrambelhado...
pensando nisso!
Gastando noites de sono,
que poderiam descansá-lo!

Sou um adolescente
como Gabriel Garcia Marques
que ao completar noventa anos
quis uma virgem para comemorar aniversário!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

LIÇÃO


Dia desses fui ao meu cardiologista, numa das minhas consultas rotineiras. Faço isso de forma programada, que é para evitar surpresas desagradáveis.

No meu último encontro havia prometido presenteá-lo com o meu livro de pescarias <>
.

Reservei um exemplar e, caprichosamente, fiz-lhe a seguinte dedicatória: “Dr. Gilberto, cuide bem do meu coração. Sem ele sou um homem morto, eu que preciso tanto estar vivo!”

Leu, ensaiou um riso e me olhando fixamente falou: “Ninguém melhor do que você para cuidar do seu coração!”


Retornando para casa, no caminho, me voltou aquela cena. O Dr. Gilberto está certo! História boba esta de pedir que cuidem do meu coração! O responsável sou eu! O médico tem apenas a missão de consertar os estragos que eu fizer.

Mas depois me veio outro pensamento: que missão estranha essa do médico: localizar os danos e as doenças que se espalham pelo nosso corpo. Receitar para recuperar. Intervir para eliminar. Esparramar esperanças entre os que se desesperam, sempre deixando acesa uma luzinha lá no fundo do túnel.

Pensei voltar e pedir que devolvesse o livro para lhe fazer uma nova dedicatória. Uma que o eximisse de tanta responsabilidade. Não fiz. Guardaria aquela frase para que me mantivesse alerta para a responsabilidade que tenho.


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MEIO DIA


Estou feliz porque são doze horas!
Estou feliz porque estou com fome!
É uma vontade forte e indescritível,
De comer para alimentar a vida
Que requer coisas mortas para viver:
Às vezes quentes,
Às vezes frias,
Umas naturais,
Outras decompostas.

E na exposição das energias postas,
Fico imaginando quantos foram subjugados,
Para que eu pudesse ser saciado!

Mas não quero ter a preocupação de pensar nisso,
A mim interessa que estou com fome,
Quem tem fome está vivo!